Qui, 30 de Novembro de 2013
Secretário diz que notas do Enem não servem para avaliar nível de ensino
Um levantamento exclusivo
realizado por O Liberal revelou que o nível apresentado por alunos das redes
pública e privada do Estado do Pará nas provas do Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) vem caindo progressivamente, ano a ano. A nota média obtida pelos
alunos nas provas objetivas, com conteúdo relacionado às disciplinas de
ciências da natureza, ciências humanas, matemática e linguagens, caiu 38,2
pontos, entre a prova realizada em 2010 e o exame do ano passado. O Brasil
acompanha o Pará no processo de involução das notas, mas o descenso do País é
bem mais tímido do que o registrado no Estado: 19,2 pontos a menos.
O maior
problema, no entanto, está relacionado à redação. A nota média alcançada pelos
alunos do ensino público e particular, em 2010, chegou a 635,5 pontos -
pontuação superior à média nacional (614,3 pontos) para o mesmo período.
Em 2012, o resultado médio marcado pelos estudantes chegou a 520,5 pontos, 115
pontos inferior à nota média atingida na edição de dois anos antes. A queda foi
tão acentuada que fez com que o Pará ficasse atrás da média nacional (530,2) no
ano passado. A nota média de todos os alunos do País caiu 84,1 pontos.
A segunda
nota com a maior redução na pontuação média foi a de ciências humanas. Nessa
área os alunos respondem a questões que envolvem história, geografia, filosofia
e sociologia. Entre os temas mais abordados nas últimas provas estão os
problemas urbanos, a situação rural brasileira, a questão ambiental, a
cidadania e as tecnologias e seu impacto na vida social e política. Os alunos
paraenses que realizaram a prova desse ano tiraram 517,6 pontos, 45,2 a menos
do que a média observada em 2010.
Outro
destaque é a nota de linguagens e códigos. Nessa prova os assuntos mais
discutidos, desde 2009, nas avaliações têm sido conectados à questões de
interpretação de texto, gêneros textuais, norma culta e popular, funções da
linguagem, figuras de linguagem, literatura, gramática relacionada à semântica
e língua estrangeira. Os alunos precisam, muitas vezes, responder a itens
envolvendo ambiguidade ou efeitos de sentido produzidos por determinados
termos. A nota média dos paraenses variou, negativamente, em 43,1 pontos.
Em 2010, os alunos do Estado registraram nota média de 526,8, no ano passado
foram 483,7 pontos.
Ciências
da natureza foi a quarta nota que mais caiu, em 2012, perdendo 34,6 pontos, em
relação a 2010 (503,4). Nessa parte os candidatos respondem a questões de
biologia, física e química. Usualmente, as questões trazem temas vinculados a
desequilíbrios ambientais, poluição de rios, impacto ambiental e Leis de
Newton, que descrevem o comportamento dos corpos em movimento. A prova traz
muitas questões de atualidade, principalmente ligadas ao meio ambiente, assim
como nas áreas citadas anteriormente. Os estudantes precisam estar bem
informados com assuntos publicados, cotidianamente, em jornais, revistas,
internet e rádio, além de estudaram os conteúdos dos livros didáticos e
prestarem atenção às aulas para tentar garantir uma boa nota.
Em
matemática a nota reduziu menos, entre os anos avaliados (30 pontos). Em 2010,
os alunos marcaram 516,8 pontos, enquanto em 2012, a pontuação média atingida
foi de 486,8 pontos. Nessa parte do exame os estudantes são cobrados em
questões de conhecimentos numéricos; geométricos; algébricos e de estatística,
envolvendo noções de probabilidade, representação e análise de dados. São
solicitadas resoluções para situações do dia a dia e, claro, a
interdisciplinaridade.
Considerando
a média das provas objetivas mais a média das provas de redação feitas pelos
paraenses a pontuação média caiu em 53,58 pontos, entre as avaliações de 2010 e
2012 (495,48 pontos). O Enem concede aos estudantes com mais de 18 anos uma
certificação que representa o fim do Ensino Básico. Para conseguir esse diploma
é preciso obter pelo menos 450 pontos em cada uma das provas objetivas, além de
500 pontos na redação.
O MEC não
fornece as notas de estudantes. Por isso, não é possível precisar quantos
alunos ficaram abaixo do conceito mínimo para certificação. O que é conhecido,
porém, são as notas das escolas - calculadas a partir das médias dos estudantes
matriculados nessas instituições. A pasta disponibilizou somente os dados de
instituições de ensino em que pelo menos metade dos alunos concluintes do ensino
médio realizou a avaliação. Escolas com menos de dez alunos também foram
desconsideradas do levantamento.
No Pará,
110 escolas, das 240 representadas por pelo menos 50% de seus estudantes
inscritos no Enem 2012, não apresentaram nota média de redação suficiente para
obter a certificação. O Levantamento de O Liberal, mostra ainda que 49 não
obtiveram nota suficiente em linguagens e códigos, 82 alcançaram média
insuficiente em matemática, 7 ficaram abaixo do determinado em ciências humanas
e 102 fracassaram em ciências da natureza.
As
disparidades entre as instituições públicas e privadas também podem ser
verificadas. As quedas apresentadas pelos alunos de escolas particulares em
ciências da natureza (17,5), ciências humanas (27,1), matemática (1,7), linguagens
e códigos (29,6) e redação (74,1) são bem diferentes dos decréscimos nas
pontuações médias obtidas por estudantes de entidades públicas (federais,
estaduais ou municipais), entre 2010 e 2012. Para esse grupo de alunos as
quedas foram de 21,51, 33,26, 19,79, 24,08 e 128,19, respectivamente. A média
das provas objetivas das escolas privadas caiu 18,9 pontos, enquanto nas
escolas públicas essa queda foi identificada em 24,6 pontos.
Mas, não
se pode generalizar. Em 2010, o Centro de Estudos John Knox, particular, foi a
escola paraense mais bem colocada no Enem, com média geral das provas objetivas
em 684,2 pontos e da redação em 721,3 pontos - ficou em 226º no ranking
nacional. Essa mesma Escola, em 2011, caiu para 1847ª posição, com média de
577,3 pontos nas provas objetivas e 648 pontos de média nas provas de redação.
Em 2012, a instituição não apareceu na lista do Enem. Tomou o topo das mais bem
colocadas do Pará a escola da rede pública federal EEIFM Tenente Rego
Barros, que ficou em 363º, com notas em 625,35 para as provas objetivas e 728,2
para as redações. Em 2010, a escola pública estava em 595º e em 2011 saltou
para 322º.
Secretário
diz que nota do Enem não serve para avaliar nível de ensino
Para o
secretário adjunto de ensino da Secretaria de Educação (Seduc) do Estado do
Pará, professor Licurgo Brito, ainda não há como justificar o rebaixamento das
notas dos estudantes paraenses. “Foi geral. Mesmo os Estados que ficaram com
pontuações boas apresentaram quedas. Podem haver muitos motivos, mas ainda não
há como apontar o culpado dessa situação. Isso, por hora, tem que ficar a cargo
do pessoal do Inep”, explicou.
Segundo o
professor, também não se pode inferir nada da comparação entre alunos de
escolas particulares e públicas, em relação às quedas e notas apresentadas. “A
prova do Enem ela é uma matriz de competência que não pode ser compreendida
como a única ferramenta ou a único dado para se medir a qualidade do ensino. A
qualidade de ensino passa por outras questões de valores e de atitudes que não
constam na matriz de competência do Enem. Além de outros valores relacionados
até à estrutura da Escola. Enfim, não há como concluir qualidade de Ensino
apenas pela prova do Enem”, disse.
Licurgo,
no entanto, não nega que a educação do Estado necessite de transformações
profundas. Ele aponta três pontos fundamentais que precisam ser reformulados na
base do sistema educacional paraense. “O primeiro é repensar os currículos,
prezando por uma nova forma de adequar as expectativas de formação do nosso
jovem na sociedade em que ele está inserido. O segundo diz respeito à formação
do professor, tendo como referência essa nova ordem curricular, preparando ele
para a formação dos nossos alunos. Esse aperfeiçoamento dos professores
serviria, inclusive, para diminuir as discrepâncias provocadas pelos nossos
afastamentos geográficos, com profissionais muito distantes. O terceiro seria a
melhoria dos recursos didáticos para que os alunos tenham mais acesso e contato
com materiais que condizem melhor com a forma como pensam e agem, hoje em dia”,
concluiu.
O
secretário considera o Enem um grande avanço para a questão do ensino básico.
“Eu reconheço a importância da prova. A Seduc reconhece o quão positivo o Enem
é e não é a toa que também temos um sistema de seleção continuo e anual para
todas as séries. Esses mecanismos são fundamentais. O País precisa de
instrumentos que sejam indicadores de desempenho, ainda que nós tenhamos que
relativizar a nossa análise desses resultados ”, disse. “A única coisa a
acrescentar é que as notas deveriam ser divulgadas mais rápido, porque elas nos
ajudam, também, a traçar objetivos e mudar percursos”, completou.
Texto: Rafael Querrer (Sucursal/ Brasília)
Foto: Reprodução/ Internet
Foto: Reprodução/ Internet
Fonte: ORM
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