Dê uma boa olhada na
foto acima. Olhe com muita atenção. Fique tranquilo, eu espero...
Olhou
bem? Então agora me responda: você acha sinceramente que este policial está
devidamente preparado para nos proteger do que quer que seja? Reparou no olhar
transbordando de sadismo incubado?
Por aquilo que assisti
estarrecido pela TV ontem, eu diria que não apenas este policial está
completamente descontrolado, mas também seus colegas de farda. Sim, eu sei que
os manifestantes também se excederam nos últimos dias – não sei como quebrar
vidros, pichar ônibus e botar fogo em pilhas de lixo no meio da rua vai atrair
a simpatia e atenção positiva do restante da população para qualquer
reivindicação que seja. Mas policiais militares são – pelo menos teoricamente –
preparados de modo profissional para enfrentar este tipo de situação. E não foi
isto o que aconteceu ontem.
Para
começar, sugiro que você leia aqui o ótimo
texto escrito pelo colega aqui de Yahoo, Pedro Alexandre Sanches, que esteve
presente em corpo e alma no meio da manifestação de ontem em São Paulo que, por
pouco, não se transformou em um novo capítulo da “Primavera Árabe”, só que
agora no Brasil.
Sei
que é “politicamente incorreto” dizer isto, mas gostaria muito que a postura
exibida pelos militares ontem contra os manifestantes fosse repetida no combate
aos milhares de assaltantes, traficantes, sequestradores e criminosos em geral,
que andam por aí impunemente roubando, fazendo arrastões em restaurantes,
queimando dentistas indefesos... Porque o que aconteceu ontem foi um tremendo
tiro no pé dado pela Polícia Militar, pela Prefeitura omissa e pelo Governo
Estadual insensível. Porque muita gente saiu ferida, incluindo profissionais
que estavam ali a trabalho – no caso, jornalistas - e, pior, gente que nada
tinha a ver com a passeata e os protestos.
Enquanto o dia de ontem
já se anunciava tenso, o que fez o governador Geraldo Alckmin? Em uma inacreditável
demonstração de desconhecimento da realidade, ele fez exatamente o contrário do
que se espera de um governante seguro e responsável: pegou parte de seu
secretariado e se mandou para Santos – é, Santos!!! – para participar das
comemorações do aniversário de José Bonifácio! E ainda postou em seu perfil no
Twitter não uma mensagem de tranquilidade e calma para a população, mas um
abraço para o povo de Guaratinguetá! Como é que é?
Já
o prefeito Fernando Haddad, do PT, conseguiu ficar com o seu filme bastante
tostado com os chamados “movimentos populares”, que foram um dos principais
alicerces de sua vitória nas últimas eleições, por se alinhar a favor da ação
da polícia e contra qualquer tipo de negociação, posição esta que mudou
rapidamente quando seus ele e seus assessores presenciaram as cenas explícita
de violência e desmandos da PM nos últimos dias. Não sem antes de tentar se
‘descolar’ de maneira asquerosamente oportunista do governo do Estado. Para
quem foi eleito com um discurso de “mudança”, Haddad não entregou o que
prometeu.
Polícia
Militar, Alckmin e Haddad fizeram aquilo que causa horror em qualquer político
experiente e tarimbado: deram motivos para as próximas manifestações de rua em
São Paulo e, porque não dizer, em outras capitais. E o que é pior: há uma
enorme possibilidade de surgir, a partir de agora, o apoio de grande parte da
população ao movimento.
Como este “trio
institucional” espera que as pessoas reajam ao ver o festival de porradas da
Polícia Militar registradas por câmeras, celulares e até mesmo pelos
helicópteros das TVs? Quem criticou o vandalismo dos manifestantes nos dias
anteriores passou agora a criticar, de modo quase unânime, a truculência e o
despreparo dos policiais e de seus respectivos comandos, estejam eles nas ruas,
nos quartéis, nos gabinetes de segurança ou nos ou nos palácios.
Pode
apostar que pouca gente vai “tocar na ferida”, como eu farei agora. Preste
atenção: tudo isto está acontecendo porque a Administração Pública municipal se
recusa a assumir o controle do transporte público, preferindo – por razões
desonestas que já estamos carecas de saber – deixar isto a cargo de empresas
particulares, gerenciadas por “empresários” que fazem qualquer gângster da
Máfia italiana parecer um escoteiro. Com tal cenário, são os prefeitos e
secretários de Transporte que deveriam exigir preços justos, conforto,
segurança e disponibilidade aos usuários, e não se tornarem reféns dos
interesses daqueles que financiam grande parte de suas respectivas campanhas
políticas.
Escrevo tudo isto com
a convicção de que o que antes era um protesto contra o aumento da tarifa de
ônibus está se transformando em algo maior. Muito maior. Ontem, uma
manifestação pacífica se tornou um caos porque o Estado, a Prefeitura e os
políticos em geral estão com medo. Muito medo. E é justamente este medo que
será o responsável por temores ainda maiores.
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