Estudantes que se preparam para prestar
vestibular este ano prometem levar ao Ministério Público Federal (MPF) a
polêmica sobre a adoção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como único
meio de seleção para ingressar na Universidade Federal do Pará (UFPA). Ontem
pela manhã, um grupo de estudantes fez uma caminhada no campus Guamá da
universidade e entregou um abaixo-assinado à pró-reitora de Ensino e Graduação
da UFPA, Marlene Freitas. O documento pedia a revogação da decisão do Conselho
Superior de Pesquisa e Extensão (Consepe), que determinou a mudança já para o
processo seletivo 2014.
'Vamos recorrer ao Ministério Público
(Federal) porque esta decisão precisa ser discutida com a sociedade. Não pode
acontecer desta forma', afirmou o acadêmico de Geografia da UFPA Fábio Moroni.
A mobilização de ontem contou com a participação de estudantes de escolas
públicas e privadas, além de universitários da UFPA e Universidade do Estado do
Pará (Uepa). Com um carro-som e faixas que deixavam clara a rejeição às
mudanças anunciadas na seleção para ingresso na universidade federal, os alunos
fizeram uma caminhada de cerca de 20 minutos, do campus profissional até a
Reitoria da instituição. Todos afirmavam estar preocupados com as novidades
anunciadas pelo Consepe e acreditam que os estudantes paraenses serão
prejudicados na nova forma de avaliação. 'Muitos alunos não têm como fazer o
cursinho e sem o cursinho não tem como competir. Para nós o ano letivo vai até
dezembro e o Enem já é em outubro. Não teremos como concluir o conteúdo a
tempo', destacou Eziel Duarte, aluno de convênio da Escola Estadual Ulysses
Guimarães.
Os alunos de instituições particulares
também estão preocupados com a nova forma de seleção adotada pela UFPA. 'Desde
fevereiro nós estamos estudando para fazer a prova da UFPA, com leituras
obrigatórias e tudo. Agora nada disso vai servir. Perdemos tempo até agora
estudando para a prova da UFPA e vamos estar em desvantagem em relação aos
alunos do Sul', afirmou Cássio Araújo, estudante de uma escola particular.
Na chegada à Reitoria os estudantes
tiveram que ficar no hall. O acesso ao prédio estava bloqueado por seguranças
da instituição. Pouco tempo depois, a pró-reitora Marlene Freitas saiu para
falar com os estudantes. Ela recebeu deles um abaixo-assinado requerendo a
revogação da decisão do Consepe e afirmou que protocolaria o documento que, de
acordo com os estudantes, tinha cerca de 500 assinaturas. Assim como no
protesto realizado na última sexta-feira, a pró-reitora ouviu as reclamações
dos estudantes e defendeu que o bônus de 10% na nota dos alunos da região pode
equilibrar a disputa entre paraenses e alunos de outros Estados do país.
Seleção provoca maior adesão ao Enem no
Pará
Especialistas na área de educação
escolar avaliam que o aumento do número de inscrições do Exame Nacional de
Ensino Médio (Enem) no Pará se deve ao fato do exame ser o único meio de
ingresso em muitas universidades públicas federais do Brasil - e agora na
Universidade Federal do Pará (UFPA). Além disso, o Enem é uma das exigências do
governo federal para acesso ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), ao
Programa Universitário para Todos (ProUni) e ao Sistema de Seleção Unificada
(Sisu). Este ano, o exame teve um aumento de inscirções de 24% em relação ao
ano passado. O crescimento ficou acima da média na região Norte, com 26%, atrás
apenas do Nordeste (29%). No Pará, as inscrições passaram de 261 mil, em 2012,
para mais de 330 mil este ano.
Para o especialista em psicologia
escolar, Raniere Mousinho, apesar de adotado apenas este mês na UFPA, o modelo
de provas do Enem é muito debatido em escolas particulares, principalmente,
pelas vantagens que oferece aos vestibulandos. 'Acredito muito no estímulo nas
escolas e nos cursinhos para que o aluno faça o Enem. Na região Norte, já havia
um ‘zum-zum-zum’ de que a universidade iria acatar', diz, informando que
atualmente 101 instituições de ensino superior já aderem ao exame como único
processo seletivo.
Mais dois documentos foram protocolados
Marlene Freitas afirmou que a
universidade já tinha outros dois documentos protocolados pelo Diretório
Central dos Estudantes (DCE) e outras entidades representativas dos estudantes
contra a adoção do Enem como único processo seletivo na UFPA. Estes documentos
protocolados ainda terão que passar por uma avaliação técnica para só então
seguirem para apreciação do Conselho Superior Universitário (Consun), que tem
poder de rever as decisões do Consepe. Mesmo após os protestos dos alunos,
Marlene Freitas voltou a afirmar que a UFPA não tem intenção de voltar a
realizar a prova do vestibular. 'Os nossos candidatos terão que fazer o Enem,
sem o Enem não há processo seletivo na UFPA', afirmou a professora.
A UFPA anunciou a decisão
de deixar de realizar uma das fases do processo seletivo na semana passada. De
acordo com a instituição o número de alunos isentos da taxa de inscrição
aumentaria muito com a entrada em vigor da lei federal que determina gratuidade
de inscrição para alunos de escolas públicas e bolsistas de escolas
particulares. Segundo a UFPA, as isenções representariam cerca de R$ 4 milhões
a menos, o que deixaria a instituição sem orçamento para arcar com os custos da
prova da segunda fase.
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